sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

das cinzas


[ Eu, Guarapari - Janeiro 2010 ]


Ela sorria para as pessoas na rua, e talvez tenha dado abertura pra que eles cobrassem dela, alem do que ela podia ou estava disposta a oferecer.
Ela costumava ser gentil com todos e talvez eles tenham entendido aquilo como obrigação e não educação.
Ela costumava conversar com quem for que encontrasse, e eles interpretaram aquilo como simples dever.

E aos poucos ela conseguiu ver como eles poderiam ser mesquinhos e cruéis.
Ela costumava acreditar que se podia ter muitos amigos, doce ilusão.
Foram necessários inúmeros abismos e poucos dispostos a oferecer as mãos, pra que ela percebesse que aquele conto de fadas que ela acreditava não passava de fantasia.
Ela despertou do sono, pra morte, ao perceber como deu sem receber e como relevou situações onde ela foi apunhalada sem piedade.
Mais ela renasceu, das cinzas, mais forte que nunca.
Hoje ela não se trata com leviandade, não entrega mais seu coração qualquer um.

Sarinha C. Ferreira

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Antes eu, depois você

[ Imagem James Jean ]

Imagino que assim como eu, você já leu, em algum lugar, aquele trecho de Clarice Lispector:’ O que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do mal feito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão. ‘
Assim como ela, o que não prestava sempre me fascinou.
Gostava de forma quase doentia daquilo e daqueles que não so não me acrescentavam, mais me vampirizavam, aqueles que nada dão, mais tudo pedem.
Passei a vida amando pessoas assim, incapazes ver alem de si mesmos. Mais cansei.
Decidi hoje que se você não tem nada a me acrescentar, eu não te quero ao meu lado, e nem sinto por isso.
Escolhi pensar em mim primeiro, me livrar dos pesos, me amar primeiro. E depois, se sobrar tempo, quem sabe eu pense em você, quem sabe?!
Não que eu seja egoísta, apenas percebi que não posso proporcionar felicidade a ninguém, sem que eu seja feliz antes.
Acredito que longe de egoísmo, eu posso chamar isso de maturidade.
Decidi não fazer mais promessas, nem pra mim nem pra você.
Promessas são quase sempre entendidas como contratos, e não quero me ver pressa a ninguém.
Escolhi viver um dia de cada vez, deixar o passado pra trás e do futuro cuida Deus.
Quanto a mim, vou viver esse presente, cheio de encantos simples e café quente, livros, poesias e melodias.
É que viver deixou de ser peso e passou a ser prazer.


Sarinha C. Ferreira

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Loira e a Morena, metades de uma laranja amiga.

[ nós. 2OO8 ]



Eu já a encontrará em vários lugares, mas nunca havíamos trocado sequer uma palavra.
Não gostava muito daquele ar de superioridade que ela exalava; Será que aqueles 1,80m subiram literalmente a cabeça daquela magricela, eu pensava.
Já ela, eu fui saber mais tarde, via em mim uma ‘nanica, atrevida e arrogante’, tínhamos algo em comum, a repulsa inexplicável que sentíamos uma pela outra.
Não tínhamos amigos em comum, não estudávamos na mesma escola, nenhum parentesco, e quase nunca freqüentávamos os mesmos lugares, éramos completamente desconhecidas, fato incomum pra uma cidade como Samonte.
Isso continuou até o verão de 2008.
Naquele ano, em um dia de sol, decidimos ir ao clube. Não, claro que não fomos juntas.

Cheguei animada, coloquei minha bolsa na mesa das minhas amigas, quando vi aquela coisa esquisita, se aproximando, na minha direção.
Ela se sentou com a gente, com a maior naturalidade, enquanto eu pensava de onde tinha surgido aquele ser... Ela só pode estar perdida, eu quase gritei.
Ta, eu sei que é quase irracional, antipatizar com alguém assim, mais era recíproco.
Vomitamos um ‘oi’ e foi tudo o que dizemos uma a outra naquele dia.
A semana passou e eu esqueci aquela situação desagradável.
Chegou o final de semana, Oba!
Era sexta feira, combinei com as meninas de nos encontrarmos no barzinho;
DE NOVO estava aquela pessoa gigante e desengonçada, sentada na mesma mesa onde eu fui me sentar. Quase perguntei quem a tinha convidado, ou se ela simplesmente era louca mesmo.
Entenda, eu não sou sempre assim... Mais por algum motivo eu não estava nem um pouco a fim de conhecê-la, não queria ouvir nada que ela tinha pra dizer e era nítido que ela também não fazia questão.
Uma cerveja, duas cervejas, três cervejas e muitas conversas atravessadas;
Nos não dirigíamos as palavras uma a outra. Imaturidade, eu sei.
Não sei ao certo em qual cerveja estávamos quando descobrimos uma coincidência: Assim como ela, eu também acabara de terminar um relacionamento de anos... Estávamos navegando no mesmo mar de desilusão.
Ela me contou, meio bêbada, a historia dela e eu contei a minha. Eram tantas coincidências, que seria cômico se não fosse trágico.
Não sei como, nem quando, mais depois desse dia nos encontramos varias vezes, e aos poucos as afinidades foram sendo descobertas.
Mil e uma descobertas dia a dia, paixão por livros e filmes, por música e cochilo a tarde. Até o sobre-nome é igual. Mais por incrível que pareça, não foram as similaridades que nos uniram, mais as diferenças.
Ela é a morena, eu sou a loira; Ela é a magra, eu sou a fofa.
Ela é coração pra mim, eu sou razão pra ela.
Ela é açúcar, eu sou limão.
Ela é efusiva, eu sou tímida alternativa.
Ela é rainha do rodeio, eu quero ser Rock Star.
Eu sou Tim, ela é Vivo.
Eu sou drama, ela é piada.
Ela é veterinária, eu sou moda.
Ela é pra ontem, eu deixo pra amanha.
Eu sou coração pra ela, ela é razão pra mim.
Ela é amor e eu também.
Nós somos duas e somos muitas.


Sarinha C.
Ferreira

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Carta





Não, eu não te perdôo, definitivamente você jamais terá meu perdão.
Sou incapaz de perdoar você pelas flores que me enviou; rosas brancas e copos de leite, como se atreve? Você sabia que eram minhas prediletas e o aroma delas continua impregnado em mim.
E
os bombons, o que me diz sobre eles? Eram pra ‘adoçar minha vida’?
Se era essa intenção, é bom que você saiba que de doce minha vida não tem nada e dos bombons só restou o gosto amargo nos meus lábios.
As fotografias eu guardei, já não as olho com tanta freqüência, aceitei que elas já não trazem felicidade como outrora, hoje apenas chicoteiam o coração.
As cartas de amor eu queimei...
Antes fosse! Faltou coragem, admito.
Aquelas palavras hoje tão vazias são as evidencias da veracidade do que vivemos. Às vezes, em algumas noites de insônia, eu as leio baixinho, com um nó na garganta e lagrimas dos olhos.
São as mais simples, doces e belas declarações que alguém já me fez. Eu quase te odeio por isso.
Lembra dos filmes de desenho? Faz tempo que não vejo um.
Ah, também deixei de ouvir nossa antiga banda preferida, todas as velhas letras me levavam a você.
Perdi a vontade de desenhar... Afinal você era minha inspiração.
E nunca mais comi brigadeiro, verdade.
Não escrevo pra você com tristeza, não.
Meus lábios até ensaiam um sorriso tímido, embriagado em nostalgia quando penso em tudo que vivemos.
E é por isso que não te perdôo, você me presenteou com os mais sublimes dias da minha vida e os mais lúgubres quando você se foi.
Confesso que as vezes desejava me chamar Clementina, e poder te a chance de apagar da memória as lembranças da vida maravilhosa que tivemos e hoje me atormentam.


Sarinha C. Ferreira