
[ nós. 2OO8 ]
Eu já a encontrará em vários lugares, mas nunca havíamos trocado sequer uma palavra.
Não gostava muito daquele ar de superioridade que ela exalava; Será que aqueles 1,80m subiram literalmente a cabeça daquela magricela, eu pensava.
Já ela, eu fui saber mais tarde, via em mim uma ‘nanica, atrevida e arrogante’, tínhamos algo em comum, a repulsa inexplicável que sentíamos uma pela outra.
Não tínhamos amigos em comum, não estudávamos na mesma escola, nenhum parentesco, e quase nunca freqüentávamos os mesmos lugares, éramos completamente desconhecidas, fato incomum pra uma cidade como Samonte.
Isso continuou até o verão de 2008.
Naquele ano, em um dia de sol, decidimos ir ao clube. Não, claro que não fomos juntas.
Cheguei animada, coloquei minha bolsa na mesa das minhas amigas, quando vi aquela coisa esquisita, se aproximando, na minha direção.
Ela se sentou com a gente, com a maior naturalidade, enquanto eu pensava de onde tinha surgido aquele ser... Ela só pode estar perdida, eu quase gritei.
Ta, eu sei que é quase irracional, antipatizar com alguém assim, mais era recíproco.
Vomitamos um ‘oi’ e foi tudo o que dizemos uma a outra naquele dia.
A semana passou e eu esqueci aquela situação desagradável.
Chegou o final de semana, Oba!
Era sexta feira, combinei com as meninas de nos encontrarmos no barzinho;
DE NOVO estava aquela pessoa gigante e desengonçada, sentada na mesma mesa onde eu fui me sentar. Quase perguntei quem a tinha convidado, ou se ela simplesmente era louca mesmo.
Entenda, eu não sou sempre assim... Mais por algum motivo eu não estava nem um pouco a fim de conhecê-la, não queria ouvir nada que ela tinha pra dizer e era nítido que ela também não fazia questão.
Uma cerveja, duas cervejas, três cervejas e muitas conversas atravessadas;
Nos não dirigíamos as palavras uma a outra. Imaturidade, eu sei.
Não sei ao certo em qual cerveja estávamos quando descobrimos uma coincidência: Assim como ela, eu também acabara de terminar um relacionamento de anos... Estávamos navegando no mesmo mar de desilusão.
Ela me contou, meio bêbada, a historia dela e eu contei a minha. Eram tantas coincidências, que seria cômico se não fosse trágico.
Não sei como, nem quando, mais depois desse dia nos encontramos varias vezes, e aos poucos as afinidades foram sendo descobertas.
Mil e uma descobertas dia a dia, paixão por livros e filmes, por música e cochilo a tarde. Até o sobre-nome é igual. Mais por incrível que pareça, não foram as similaridades que nos uniram, mais as diferenças.
Ela é a morena, eu sou a loira; Ela é a magra, eu sou a fofa.
Ela é coração pra mim, eu sou razão pra ela.
Ela é açúcar, eu sou limão.
Ela é efusiva, eu sou tímida alternativa.
Ela é rainha do rodeio, eu quero ser Rock Star.
Eu sou Tim, ela é Vivo.
Eu sou drama, ela é piada.
Ela é veterinária, eu sou moda.
Ela é pra ontem, eu deixo pra amanha.
Eu sou coração pra ela, ela é razão pra mim.
Ela é amor e eu também.
Nós somos duas e somos muitas.
Sarinha C. Ferreira